24 de out. de 2011

O INTERESSE PÚBLICO E AS PRIORIDADES (leões alados)


O INTERESSE PÚBLICO E AS PRIORIDADES
(leões alados)

Do ponto de vista do direito constitucional, é duvidosa a legalidade quanto a colocação das estátuas dos leões alados, isso por que a justificativa está fundamentada num mito religioso pagão. Obviamente, o Poder Público de um Estado laico não pode promover qualquer religião. Como a religião babilônica dos leões está extinta e ninguém prega sua volta, fica essa reflexão jurídica relegada a interesse secundário. Vamos então encarar o fato somente pelo lado estético, o do embelezamento da cidade.
É evidente que todos prezamos pelo belo, seja fashion ou brega. Queremos morar numa casa e numa cidade bonita. Orgulhar-se de onde mora, por que sentir vergonha não faz bem ao espírito. Mas certamente, antes de embelezar a casa, decorá-la, melhorar sua estética, ela deve dar abrigo, conforto e segurança. Ninguém em sã consciência irá trocar o assoalho, colocar móveis novos, etc., sem antes consertar o telhado causador de inúmeras goteiras. Será que nossa cidade já chegou ao ponto de relegar a atenção as necessidades e voltar nossos recursos ao belo? - Sem qualquer esforço, vemos que não. Há demandas não solucionadas na saúde, educação, etc.
E se há um investimento em que de imediato dá um retorno de 300%? Melhor colocar o dinheiro em estátuas ou neste investimento? Esse investimento existe, mas, por não ser visível, a classe política a ele pouco se interessa. Mais fácil ver estátuas.
Trata-se do FUNCAP (Fundo Especial para Calamidades Públicas), previsto no art. 7º da Lei 12.340/2010 e regulado pelo Decreto 1080 do Ministério da Integração. Conforme art. 9º, § 2º desta Lei, a cada R$ 1,00 aplicado no fundo, a União aportará outros R$ 3,00. E para isso não precisa de deputado pedindo verba, não precisa de intermediário, etc. E o dinheiro do município a ser aplicado de onde viria? Poderia ser o que foi pago pelas estátuas.
Na hipótese de ocorrer situações de emergência ou estado de calamidade pública, o Município, sem maiores dificuldades, pode se utilizar deste fundo para fazer frente as emergência. Como trata-se de um dinheiro contingenciado, que só se utilizaria após os desastres, já dá para entender por que o interesse da Administração Pública em tal investimento não é lá tão grande.
Até onde é do meu conhecimento, Toledo não faz parte do FUNCAP, e, mesmo que faça, a questão é quanto está investido e se deve aumentada a participação. Não é razoável que se deixe passar uma oportunidade como esta. Aplicar um e ter mais três. Como disse em certa campanha para governador, ao ser questionado sobre os juros agrícolas, certo candidato disse que “nem plantando maconha irrigada pagava”. A aplicação no FUNCAP, como investimento, rende mais que o plantio irrigado da canabis. Quem perde com um negócio desses?
O que está acontecendo em Toledo é que estamos embelezando a casa mas não consertamos ainda o telhado. Como dirigente da OAB e integrante do CONSEG, a Defesa Civil é pauta latente nas nossas ações, como pode ser visto em vídeos no youtube.com. Com essa pauta, o assunto chegou na Câmara de Vereadores, ao ponto do Vereador situacionista Luis Fritzen perguntar: “onde o raio vai bater?”. Bom, certamente se perguntar ao Vereador se nos leões-de-asas o para-raios deve ser colocado no chão ou no alto ele vai dizer que será no auto. Tal pergunta vem da falta da cultura de prevenção de riscos, e nossa Câmara é reflexo de nossa sociedade, o que explica a pergunta retórica, dando pouca importância ao assunto.
Resta agora iniciar uma campanha de arrecadação de valores para Toledo aderir ao FUNCAP, e, quando diante de uma catástrofe como a que ocorreu recentemente em Londrina, nossos Administradores não precisam pegar o pires... Lá, como cá, nunca imaginaram que uma tromba d'água faria tanto estrago!

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